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Povo de rua: escola de cidadania e de vida

Há alguns anos, conheci o trabalho desenvolvido pela Pastoral do Povo de Rua, ligada à Arquidiocese de Belo Horizonte. Na sequência, fui convidado para encontros de formação e/ou assessoria com integrantes dessa população em atividades promovidas pela Pastoral e pelo Centro Estadual de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis de Minas Gerais.


Devo confessar que a cada encontro ou reunião entrava como professor convidado e saía como um aluno inebriado por tanto aprendizado que absorvia a partir das intervenções, depoimentos, análises e testemunhos dos moradores de rua e da equipe técnica que atuam nessas verdadeiras escolas de cidadania e de vida.






À medida que conhecia um pouco da história desse segmento tão segregado e estigmatizado da sociedade pude perceber que daquilo que é considerado lixo brotam verdadeiras árvores de sabedoria, resistência e luta: trata-se da potência que nasce da união, da troca de saberes e do engajamento sociopolítico dos moradores de rua e das equipes dessas instituições que com eles atuam e transformam a vida desses sujeitos e a vida na cidade.


Entre os muitos aprendizados, alguns me marcam profundamente: as múltiplas formas de engajamento que resultaram em saídas objetivas para o drama da exclusão, como, por exemplo, a elaboração e implantação da política nacional para a população em situação de rua (Decreto 7.053 de 23/12/2009) que nasceu das bases dessas instituições, com a participação ativa dos moradores em situação de rua na condição de sujeitos ativos nos processos de elaboração, implementação, monitoramento e avaliação dessa política pública. Trata-se de engajamento/conhecimento com a temática e ação política que quebram preconceitos e lançam por terra a visão preconceituosa segundo a qual essa população é formada por vagabundos incultos.


Outro aprendizado, a cada encontro com integrantes dessas instâncias, se dá na educação política e à cidadania. Como professor universitário, faço questão que meus alunos, a cada ano, desenvolvam uma pesquisa-ação com integrantes da Pastoral ou do Centro no sentido de aprenderem, na teoria e na prática, o que é, de fato, o exercício ativo da cidadania. E a cada experiência dessa relação entre Universidade e população em situação de rua nasce o encantamento que se dá na troca de saberes e na produção de novos olhares sobre realidades que são invisibilizadas e criminalizadas pela nossa sociedade.


Neste breve testemunho, agradeço a Pastoral, ao CEDDH, a Cristina, Claudenice, Samuel... e a tantas e tantos que me ensinam grandes e duradouras lições: apesar de toda violência, segregação, discriminação, xenofobia... os moradores de rua são cidadãos muito mais plenos, capacitados e íntegros que boa parte dos ditos “homens e mulheres de bem” da nossa sociedade.


Robson Sávio Reis Souza é presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos de MG; membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Belo Horizonte e coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas.



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